terça-feira, 18 de dezembro de 2007

João do Vale, Poeta Mártir.





João do Vale é natural de Pedreiras, no Maranhão, nascido em 11 de Outubro de 1934. Vindo de família pobre, teve que parar de estudar no 3º ano primário, para ceder seu lugar na escola ao filho de um coletor recém-nomeado para trabalhar em Pedreiras.
Pouco sabia sobre a língua portuguesa, mas trazia consigo a paixão pela poesia e música. Com 13 anos foi para São Luiz, e lá participou de um grupo de bumba meu boi como amo (aquele que cria os versos).
Em 1950 foi para o Rio de Janeiro, viajando sempre de carona, e nesse meio tempo realizando trabalho de estivador nas cidades em que parava. Ao chegar no Rio, trabalhou como pedreiro, estivador, e outros trabalhos braçais. Por não saber ler nem escrever direito, guardava todos seus versos e músicas na mente, sempre os mostrando aos colegas de trabalho.
João do Vale ficava na porta das rádios do Rio, tentando mostrar seus trabalhos como compositor aos artistas.Sua primeira música foi gravada dois meses após sua chegada no Rio, o artista Zé Gonzaga gravou Cesário Pinto. Mas não foi aí que o Brasil conheceu João do Vale. Em 1953, Marlene lança o disco Estrela Miúda (música de João do Vale).
A partir daí, vários outros artistas da época começaram a gravar suas músicas, coisa que não rendeu a João do Vale reconhecimento ou retorno financeiro. O mesmo falava a seus colegas de trabalho na construção, que as músicas que estavam na rádio eram de sua autoria. Da pra imaginar as risadas que ele ouvia... Ninguém acreditava!
Já no final dos anos 50, João do Vale era reconhecido como um artista, mas ainda não da maneira que deveria, pois sua genialidade era principalmente gravada por outros artistas, pagando a ele somente os direitos de obra intelectual, e não porcentagem por venda de disco. Mesmo assim, João do Vale julgou esse como sendo um bom negócio, pois sua primeira remuneração foi de 200 cruzeiros, e na construção, ele ganhava só 5 cruzeiros por mês... Mas suas músicas lhe renderam boas amizades, como a que tinha com Chico Buarque, dentre outros.
Sua amizade com Chico Buarque lhe rendeu a gravação de um excelente disco em 1982, no qual, João do Vale interpreta suas canções junto com outros artistas. A produção do disco é louvável, e foi aqui, que muitas pessoas foram atinar que certos “sucessos” do passado eram de João do Vale.
Esse nobre artista foi barrado nas sessões de gravação de seu disco, por sempre andar descalço, sendo confundido com um indigente. Ele andava descalço por que não haviam calçados que lhe coubessem nos pés...
Em 1987, João do Vale sofre um derrame. Estava em viagem, acompanhado por uma moça, que no momento em que foi acometido pelo acidente vascular, saiu correndo. João do Vale é encaminha ao hospital mais próximo, mas é tratado como indigente, pois sua carteira havia ficado na bolsa da sua acompanhante que fugiu. Teve uma convulsão na maca, caindo e batendo a cabeça no chão. Após horas sem atendimento, foi reconhecido por uma estagiária.
João do Vale passa dois anos internado em um hospital, se recuperando, mas mesmo assim, ainda ficou com um lado do corpo paralisado. Por não poder mais cantar, deu entrada na sua aposentadoria de 5 salários. Após isso, decide voltar para Pedreiras.
O restante de sua vida foi passada jogando dominó religiosamente, em frente ao sindicato dos arrumadores de Pedreiras. Um certo dia, João do Vale, não foi jogar dominó, pois se sentia mal. Nesse mesmo dia foi acometido por um outro derrame, ficando inconsciente. Com seu estado de saúde comprometido por diabetes e hipertensão, não resistiu ao terceiro derrame, vindo a falecer às 13:30, em uma sexta feira, dia 06 de dezembro de 1996.
O que espanta, é que mesmo perante a genialidade da obra deste artista, não se pode encontrar CD’s do mesmo nas lojas. A pequena tiragem do disco em CD não atende nem de perto a grandiosidade de sua obra. As gravadoras podem o chamar “economicamente pouco viável”, por ser negro, nordestino e semi-analfabeto. Ainda hoje, podemos encarar João do Vale como sendo um Mártir, levantando a bandeira da luta com o preconceito e a favor da arte.




Hilário Lima


Vídeo Raro de João do Vale

domingo, 16 de dezembro de 2007

Curta Metragem do mundo atual.

Esse curta mostra bastante a "inversão de papéis" do mundo moderno!! Assistam e comentem!

Brega é Literatura!!

Lendo o Diário deste domingo (16/12/2007) vi uma entrevista que me chamou a atenção. Uma professora com nível superior que defendia o uso de letras de brega no ensino de matérias como redação, português e literatura. No começo, admito que fiquei impressionado com seu regionalismo, que é um fator que conta muitos pontos a meu ver. Mas no decorrer da leitura, comecei a ficar chateado. Já imaginou seu filho chegar em casa com a tarefa de leitura e compreensão de texto, cujo o texto é: “quem vai querer a minha piriquita.”??? Receio que a professora tenha se equivocado em algumas afirmações...
A mesma afirma que é mais fácil trabalhar quando as crianças já tem o texto em mente (se é que podemos chamar isso de texto...), mas a pergunta que fica, é: Qual o conteúdo assimilado? Será que isso colabora para que o restante do país pense que somos todos ignorantes? Qual o peso desse material de duplo sentido para o desenvolvimento intelectual e comportamental das crianças??
Vale também ressaltar que essas músicas se proliferam por sua baixa qualidade, baixo “teor” intelectual (que facilita a compreensão) e alta rotatividade de artistas. Por isso são tão utilizadas por sistemas de comunicação de massa, por quê “colam” rápido, desaparecem rápido, e geram mais lucros financeiros. Como afirma Nuno Mindeles (músico de Blues) o povo quer o que lhe é oferecido. Ofereçam Jazz, bossa, que eles vão gostar do mesmo jeito. A diferença está no que é aprendido, a na complexidade de pensamento que isto ajuda a formar.
Se nos voltarmos para o uso de músicas regionais como forma de ensinar, podemos com certeza ter escolhas mais interessantes... e, não falo só daqueles que já tem uma carreira sedimentada nacionalmente, mas temos muitos músicos e bandas como Cravo Carbono e Lia Sofia, dentre tantos outros tão talentosos quanto, que representam opções mais interessantes.
Não quero aqui, dizer que o ritmo brega, é pobre. Não existe um ritmo pobre, mas sim um compositor ou músico pobre. Quem sabe, se melhorarmos a capacidade intelectual de nossos jovens, com textos mais criativos e instigantes, podemos ter daqui a alguns anos uma banda de brega com letras de qualidade? Por que se tivermos que manter a banda Calypso como representante da música paraense no Brasil, melhor começar a dizer que não somos daqui...

Hilário Lima.

Peopis no ar.

Peopis é um blog de críticas de acontecimentos, reflexões, de notícias, análises da obras de artistas, debates sobre livors, bem como notícias exdrúxulas. Todos aqueles que quiserem postar seus comentários, respostas, ou matérias, mande a mesma para o e-mail: hiplpeopis@gmail.com. Caso o leitor se sinta ofendido com os presentes comentários ou matérias, pode enviar sua mensagem para o mesmo endereço eletrônico.